Candidatos do PT, PL e PDT aparecem, respectivamente, em primeiro, segundo e terceiro nas pesquisas Datafolha e Ipec. Em 2006, Lula levou 97,20% dos votos do segundo turno em Central do Maranhã (MA); em 2018, Bolsonaro teve 92,96% dos votos no segundo turno em Nova Pádua (RS); enquanto Ciro conseguiu 70,46% dos votos em Pires Ferreira (CE) no primeiro turno.
Com pouco mais de 8.800 habitantes, Central do Maranhão ganhou projeção nacional por ter sido o município que, proporcionalmente, mais votou em Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2006. No segundo turno daquele pleito, o petista levou 97,20% dos votos de lá, o que rendeu à cidade a fama de mais lulista do Brasil.
O g1 foi às cidades que mais votaram proporcionalmente em Lula(Central do Maranhão, MA), Bolsonaro (Nova Pádua, RS) e Ciro (Pires Ferreira, CE) nas últimas eleições que eles disputaram. Os três lideram a disputa neste ano, segundo o Ipec e o Datafolha.
Nova Pádua (RS), a cidade mais bolsonarista do Brasil
Pires Ferreira (CE), onde Ciro foi o mais votado em 2018
Cidade mais lulista
No 2º turno das eleições presidenciais de 2006, Central do Maranhão deu ao ex-presidente a maior porcentagem de votos em um município: 97,20%.
Moradores contam que os motivos que levam a esse apreço pelo petista passam por uma identificação com o passado dele como sindicalista, mas, especialmente, por conta do Bolsa Família.
Para Valter Costa, 80 anos, um dos mais antigos da localidade, a cidade já se identificava com Lula antes mesmo de 2006.
"No primeiro governo, o povo queria mudança porque muitos pais de família, naquela época em que ele era sindicalista, queriam ele como presidente. No segundo governo, votaram nele por causa do Bolsa Família", afirma.
Mesmo com a mudança do nome do programa para Auxílio Brasil, a população ainda associa a imagem de Lula ao Bolsa Família, segundo a prefeita do município, Cleudilene Gonçalves Privado Barbosa, a Fechinha.
"[A admiração pelo Lula] é muito pela implantação do Bolsa Família, por ser uma cidade, na época, muito carente. Muitas pessoas são gratas até hoje", diz a prefeita do Republicanos, partido que nacionalmente é da base de apoio do presidente Bolsonaro.
Com uma população descendente de quilombolas, o município, emancipado em 1994, começou como um povoado que se formou no entorno de um grande engenho de açúcar. Os moradores viviam do ofício na lavoura, mas a falência da usina levou mais pobreza à região.
Até hoje, a cidade concentra muitos moradores aposentados pelo trabalho no campo, além de comerciantes, que tiram sua renda da Feira de Central, principal atrativo de público da cidade, aos domingos.
No último ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) disponível, com base no Censo de 2010, Central do Maranhão aparece no 240º lugar no país, com 0.585, considerado baixo.
O indicador leva em conta três dimensões (longevidade, renda e educação) e varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. O IDHM é uma versão local do IDH, o índice social usado pela ONU para avaliar o grau de desenvolvimento humano em países.
"Aqui é uma cidade muito pobrezinha. Aqui não tem movimento. Eu tenho o comércio, mas quando vende é só fiado. Tem uns que nem pagam. (...) Ele [Lula] fez os erros dele lá, que eu não sei, mas também trabalhou", afirma Maria de Jesus, que mora em Central do Maranhão há 57 anos e hoje trabalha como comerciante. A sua principal fonte de renda, no entanto, é a aposentadoria.
Maria opina também o motivo pelo qual ela entende que o atual presidente, Jair Bolsonaro, não é querido na cidade, mesmo tendo ampliado para R$ 600 o valor do Auxílio Brasil.
"O problema é que Bolsonaro não regula muito da cabeça. Em um dia, ele diz uma coisa e, depois, diz outra. Então, não adiantou [aumentar o valor do Auxílio Brasil] porque o povo já sabe que é até o final do ano e que, no próximo ano, ele pode até tirar [o benefício]", diz a comerciante.
Apesar de o Auxílio Brasil de R$ 600 ir até o final do ano e não estar previsto no Orçamento de 2023 enviado pelo governo ao Congresso, o plano de Bolsonaro enviado ao TSE promete manter o benefício nesse valor.
Divergências políticas
Apesar da rejeição de parte da população, há quem defenda Bolsonaro com convicção. Em sua maioria, são jovens que eram crianças no período em que Lula era presidente, pessoas mais conservadoras ou que não gostam do PT em razão das acusações de corrupção.
Um deles é Nathan Marques, técnico em radiologia, que atribui à falta de informação a admiração que os moradores centralenses têm pelo líder do PT.
"A gente está no Nordeste, a região com mais desigualdade econômica e de informação, e é um fator que justifica a maioria das pessoas ser Lula, mas também tem a questão do Bolsa Família", diz.
Ele conta que não vota em Lula por considerar que PT se envolveu em corrupção e avalia que a atenção dada ao ex-presidente não se justifica. No entanto, pensar diferente da maioria na cidade não chega a ser um problema ou gerar insegurança, segundo Nathan, que faz questão de falar para todo mundo que é bolsonarista.
O jovem diz não ver conflitos intensos entre bolsonaristas e lulistas em Central do Maranhão e fala que a sua identificação com o atual presidente se dá tanto na seara econômica quanto ideológica.
"No primeiro ano do governo Bolsonaro, a economia vinha melhorando, mas aí veio a pandemia, que o prejudicou. E ele é diferente do Lula, que disse uma vez que estava cansado de ver jovens sofrendo com a polícia apenas porque roubaram um celular. Ele [Lula] defende o desencarceramento de pessoas que cometem pequenos delitos, mas esquece que uma pessoa que rouba celular pode matar alguém antes ou durante o delito. É uma questão ideológica deles e é diferente do que eu penso", pondera.
História e população
A população de Central do Maranhão descende do povo negro que vivia em quilombos nos séculos passados que sobreviveram ao período escravocrata no Brasil. Fica ali o Quilombo Monte Cristo, certificado pela Fundação Cultural Palmares, órgão responsável pela titulação de territórios quilombolas.
A instalação da Usina Joaquim Antonio, uma das maiores do Maranhão, atraiu trabalhadores de outras regiões e moldou o traçado do então chamado Povoado Central, que viu a sua população aumentar significativamente em meados do século XIX.
O engenho de açúcar operou até meados do século XX, quando entrou em falência. Devido a isso, a geração de renda pela população passou a depender da lavoura e do comércio na Feira de Central, que nasceu devido ao grande fluxo de pessoas que passavam no povoado e ao recebimento do salário dos trabalhadores da usina, que ocorria no fim de semana.
"Aqui passava muito dinheiro porque os antigos donos das terras produziam açúcar e cacau, depois mandavam pra Belém. Agora, o que movimenta muito aqui é apenas feira, aos domingos. Vem gente de todo município pra cá", explica o morador Valter Costa, de 80 anos.
Trajeto
Para chegar à cidade, saindo da capital São Luís, é preciso rodar 109 km entre rodovias e fazer a travessia da baía de São Marcos por balsa ou ferryboat. Na alternativa por terra, é necessário trafegar por 406 km de estrada, contornando toda a baía.
A rodovia que dá acesso à cidade é a MA-211, que está em obras desde 2016 por conta do projeto da ponte Central-Bequimão, que promete encurtar a rota entre os municípios. Enquanto as obras não terminam, o motorista precisa ter paciência e passar por um trajeto com muitos buracos e terra.
G1
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